sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Rei em Buenos Aires



Parece pouco, mas para mim foi muito.

"Eu também gosto de Roberto. No Brasil nós o chamamos de Rei". Aos poucos minhas respostas enchiam os olhos do taxista Argentino. Juan Manoel, jovem e bem humorado que não escondia sua curiosidade e admiração pelo Brasil.

Em Buenos Aires conheci pessoas, monumentos históricos e me deliciei com os chouriços mal passados acompanhados de inigualáveis vinhos. Mas foram os poucos minutos dentro daquele táxi que de fato justificaram este ato de viajar, de ir ao encontro de algo desconhecido.

Depois de um dia de passeios turísticos no bairro La Boca, um dos mais pobres da capital Argentina eu e minha namorada Flora decidimos ir até Avenida Santa Fé, atraídos pelo apelo comercial da região.

Entramos dentro de um táxi um pouco acabado.O carro antigo, com o para choque quebrado era um indício de que talvez o homem que o conduzia fosse morador do bairro.O taxista abaixou o volume do som, que tocava um merengue bem animado e com muita simpatia nos perguntou o nosso destino. Conduzido pelo sotaque de minha resposta ele percebeu que eu era Brasileiro. A partir deste ponto o motorista que agia com cordialidade, passou a agir como um velho amigo, companheiro de América do Sul.

Pode parecer clichê de tele novela, mas o fato é que as pessoas mais pobres sempre se apresentam a mim de uma maneira muito mais acessível, e isto acontece no mundo inteiro.Naquele momento, quase no último dia de viajem tive a sensação real de ter conhecido enfim um verdadeiro representante da população Argentina.

Através do seu crachá de identificação fiquei sabendo o seu nome. Juan Manoel me chamava de Pedro com enorme intimidade, e ria todas às vezes que eu pronunciava o palavras com "d" e "r" juntos. Nosso primeiro assunto foi música.O jovem não escondeu sua enorme admiração pela música brasileira, sobretudo sua idolatria ao cantor Roberto Carlos. Quando soube que no Brasil o apelidamos carinhosamente de Rei, ele se mostrou surpreso e contente ao saber do enorme reconhecimento de seu ídolo.

Adiante, mais sereno ele afirmou que o rei do Brasil era o Lula. Sim, é de arrepiar a maneira com que nós brasileiros somos agora respeitados nos outros países. E da para se orgulhar da política social do Brasil que agora serve de exemplo para outras nações do mundo.

Compartilhamos diversas informações sobre projetos sociais dos dois países que estão modificando o cenário de desigualdade, exploração e pobreza da América Latina. Esta conversa expôs outra característica do argentino. Além de loucos por futebol, são muito politizados. Isso talvez explique a idolatria do povo à Ernesto Guevara, estampado no braço de Maradona e em toda Buenos Aires. Idolatria que a revista Veja com o ar arrogante de seus colunistas faz questão de ridicularizar e fingir que não entende o seu "porquê".

A circulação do Real em bairros burgueses de Buenos Aires é muito comum. mas aquele argentino, morador do Boca nunca havia visto a nossa moeda. Achou bonita e sugeriu que as notas maiores trouxessem em seu verso a imagem do nosso ex presidente. Com cortesia e orgulho, elogiei Carlos Gardel e as políticas inclusivas da presidente Christina.

Após o nosso longo papo sobre política , a nossa recíproca admiração idearia ficou evidente. Ele nos apresentou um lugar mais modesto e mais barato para compras. Olhou em meus olhos que estavam vermelhos devido a alta dose de medicação que tomo na luta contra uma rejeição de transplante de córnea, e me desejou melhoras.Um dos mais sinceros desejos dos muitos que venho recebendo, apertamos firmemente nossas mãos e nos despedimos, conscientes de que não estávamos sozinhos em nossa eterna luta na terra.

Viajar não é a procura do diferente, como disse anteriormente e sim o encontro daquilo que nos torna iguais, uma maneira saudável, às vezes simples, às vezes penosa de se reconhecer em espelhos de humanidade espalhados pelo mundo.

pedro vasconcelos. 21/01/11

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