terça-feira, 24 de agosto de 2010

" Isto é uma vergonha "


“Que m...: dois lixeiros desejando felicidades do alto da suas vassouras! O mais baixo na escala do trabalho.” A frase é do respeitado âncora do Jornal da Band, Boris Casoy, que sem saber que o seu áudio estava sendo transmitido em rede nacional, comentou em tom irônico imagens que mostravam uma dupla de garis desejando felicidades aos telespectadores da emissora. A frase de Casoy não apenas demonstra a opinião de um jornalista renomado, escancara ainda, o preconceito social tão comum entre os membros da elite brasileira, mesmo naquela porção envolvida com os meios de comunicação.
A cultura de desvalorização do trabalho braçal é antiga. Os trabalhos manuais, principalmente os pesados, eram rejeitados pelos cidadãos gregos e delegados aos escravos capturados em guerra O filósofo grego Platão dizia que: “É próprio de um homem bem-nascido desprezar o trabalho”. Logo, os cidadãos gregos valorizavam apenas as atividades intelectuais, artísticas e políticas. Este pensamento se proliferou durante toda idade média onde os servos faziam todo o trabalho duro dos feudos. A cultura de desvalorização dos trabalhos manuais chegou ao Brasil com os portugueses junto com os navios abarrotados de negros escravos. Em 1888 a escravidão terminou em lei,mas as condições de trabalho do povo Brasileiro continuaram sendo as piores possíveis.Aos poucos muitas leis trabalhistas foram consolidadas, as condições de trabalho melhoraram muito, mas ainda é preciso tirar do inconsciente das pessoas esse preconceito social em relação ao trabalho.
O deslise do jornalista pode nos causar espanto, mas não surpresa.Durante toda sua tragetória jornalistica, Bóris Casoy, sempre criticou duramente os movimentos sociais dos trabalhadores, principalmente o MST.Ele é um dos porta vozes de uma “elite branca” que sente profundo desprezo para com tudo que é do âmbito popular. Suas críticas duras e muitas vezes agressivas explicitam bem a sua maneira aristocrática de pensar. A frase de Boris não ofende apenas aos garis, mas desrrespeita a historia de luta do trabalhador brasileiro, tão penalizados pelas cargas horarias abusivas e salários que os colocam abaixo da linha da pobreza.
A maioria dos meios de comunicação do Brasil estão nas mãos de uma elite poderosa recheada de políticos e donos de terras, as conceções televisivas são passadas de geração para geração mantendo assim um ciclo vicioso do monopólio da informação.Durante a ditadura militar muitos jornalistas foram perseguidos e torturados, entretanto alguns empresários do meio foram beneficiados com conceções, estes veículos beneficiados muitas vezes manipulam a inforação, favorecendo assim os seus patrocinadores.Em plena ditadura militar Bóris Casoy foi nomeado Secretário de Imprensa de Herbert Levy, Secretário de Agricultura do governo Abreu Sodré, em São Paulo, isso não quer dizer que ele era favoravel ao regime, mas mostra que Boris teve uma relação próxima com o governo da época. Neste mesmo ano , Casoy chegou a ser citado em reportagem da revista Cruzeiro como um dos principais membros do CCC(Comando de Caça aos Comunistas), um trecho da matéria dizia:
“Boris Cazoy ou Kassoy estuda Direito. Locutor da Rádio Eldorado. Conclamou os alunos do Mackenzie a tomar a USP, de cuja invasão participou. Anda armado mas, segundo os colegas, é incapaz de atirar em alguém. Mora na Rua Itapeva. Acham-no mole com os comunistas”.
O jornalista tem direito de expressar a sua opinião, o que é espantoso é que ainda haja muitas pessoas que pensam como Boris, de uma maneira extremamente preconceituosa e desrespeitosa. Este lamentável episodio não teve nem uma repercussão nos veículos televisivos, talvez por respeito a figura de Casoy, talvez por corporativismo ou talvez por que estes veículos simplesmente desprezam este tipo de discussão.A internet foi a responsável pela divulgação do ocorrido, muitos blogueiros se manifestaram em relação ao tema, no primeiro dia de exibição no youtube o vídeo teve mais de dois milhões de acessos, o que comprova a importância da internet na democratização dos meios de comunicação.Após muitos e-mails e críticas a redação da televisão bandeirantes, Casoy pediu “profundas desculpas aos garis e aos telespectadores da Band” pelo que escutaram em razão de um “vazamento de áudio. A verdade é que desculpas não tiram de Casoy a intenção de ter dito o que disse, e nos passa uma enorme sensação de desconforto, pois não sabemos mais aquilo que se passa nos bastidores de uma televisão e principalmente de um jornal.
Antes de cobrarmos uma atitude não preconceituosa do povo Brasileiro, precisamos acabar de vez com toda a hipocrisia que cerca o discurso da elite brasileira. Ela que fez tão pouco pela educação da nação, continua detendo o poder de educar atravez dos meios de comunicação de massa. Durante muitos anos estes meios deseducaram o povo brasileiro que é constantemente acusado de ser despolitizado.O fato é que muito interessante para os velhos chefões da televisão brasileira que povo continue entrertido com os paredões do “big brother brasil” enquanto nos bastidores eles riem da miséria e da desigualdade do nosso país.Este caso envolvendo Bóris não pode ser visto como um fato isolado, mas deve ser analisado como um problema crônico de uma pátria com poucos donos e muitos empregados na escala mais baixa do trabalho.
Pedro Vasconcelos Costa e Silva.

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